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The Bronx Journal-September 2000 Portuguese

Beatriz Schiler: O olhar através da câmara

Ivaldo Costa

 

Carioca da gema. nascida e, Botafogo, ela veio para os Estados Unidos fotografiar as maravilhas e mazelas da Tierra de Tio Sam. Inseriu-se em todas as camadas sociais, navegou por entre muitos mares, da política às artes. Toda a trajetória através de um clique de sua câmara. Beatriz Schiler é uma das mais conceituadas fotógrafas em actividade nos Estados Unidos.

Na ativa, realiza cobertura de espectáculos grandiosos, como as óperas do Metropolitan, fotografa celebridades e encontra, através do coração, o caminho que leva à poesia expressa no registro do matuto brasileiro ou na sensualidade das garotas douradas do Rio. Em tudo ele garante o olhar imparcial da fotografia, e o envolve com a paixão e a cumplicidade do seu foco de artista. “A arte maior é a arte ser gente. Cada pessoa é importante”, sintetiza, na intensidade do seu olhar.

Quando você veio para os EUA e por qué?

Vim para os Estados Unidos em 1970 para passar três anos por um motivo diferente da maioria dos imigrantes, vim por questões familiares. Quando cheguei, comecei a trabalhar no Jornal do Brasil, para onde enviava uma matéria poe semana. Minha intenção inicial era fazer ensaios fotográficos, com poucas palavras e muitas imagens. Porém, isso se mofificou e fiquei como correspondentenfull-time do JB por dez anos. Durante esse período fazia matérias diárias também para a Rádio Jornal do Brasil.

O que você vem desenvolvendo atualmente na sua profissão?

Trabalho com diferentes clientes. Acho que nos Estados Unidos o trabalho tem um efeito acumulativo. Quanto mais as pessoas te conhecem, mais oportunidades aparecem, porque gera uma confiança mútua que impulsiona novos trabalhos.

Como você observa o trabalho jornalístico e fotográfico no Brasil e nos Estados Unidos?

È dificil para mim julgar essa diferença, hoje, aqui e lá. Minha impressão é que o campo, no Brasil, sendo menor de uma certa maneira, emborahaja mais jornais no Rio de Janeiro do que em Nova York,... aqui há uma trama mujito maior de tudo, uuma quantidade gigantesca de publicações, revistas, folders, enfim, a competividade aqui é maior. Acredito que, no Brasil, as pessoas bem estabelecidas profissionalmente devam ganhar mais do que as daqui, mas elas são poucas. O Brasil tem essa tendência de concentrar o dinheiro na mão de poucos figurões. Quanto à qualidade, Nova York apresentaa uma variedade enorme de gostos e de profissionais e, dentro disso, acredito que os profissionais brasileiros são muito bons, os que se destacam realmente são talentosos.

Quais temas brasileiros você destacaria como valorizados no mercado norte-americano?

Sem dúvida, a Amazônia, as palmeiras, a flora, as praias, enfim, a naturaleza brasileira, incluindo outras belezas como as  mulheres, os homens, porque os brasileiros possuem corpos muito bonitos. Observem o sucesso das nossas modelos aqui, Gisele Bundchen além de mulheres belíssimas que aqui já estiveram e outras que estão vindo. Ou seja, fotografia de glamour. Captar a luz brasileira, a alegria nas faces das crianças brasileiras, enfim, ecistem amuitos aspectos da nossa terra que vendem. Até a Coca Cola fez propaganda do Brasil.

Você registrou importantes momentos dos Estados Unidos, como as campanhas de George Bush e Ronald Reagan, mas seu trabalho fotográfico destaca-se no campo artístico. Quais celebridades já posaram para sua lente?

Ai, meu Deus... Uma coisa foi surprendente foi quando me telefonaram do escritório de Bette Midler, dizendo que ela gostava das minhas fotos, acompanhava meu trabalho através dos anos e queria me conhecer. Convidou-me para ver o show que estreava “Divine” no Radio City Music Hall, para o qual desejava me contratar.

Foi algo que eu nunca tinha feito antes e que normalmente não faço porque teria que vender o pacote inteiro, incluindo os direitos autorais. Mas ela tornou a coisa atraente para mim. Foi muito simpática, chamou-me ao camarim, onde estava inclusive Lauren Bacall e, quando entrei, ela tomava champagne e disse:“Parem tudo, chegou a minha fotógrafa”. E me apresentou a todos. Achei muito bonito isso, foi muito interessante.

 Quanto à qualidade, Nova York apresentaa uma variedade enorme de gostos e de profissionais e, dentro disso, acredito que os profissionais brasileiros são muito bons, os que se destacam realmente são talentosos  

Dentre as celebridades fotografei Woody Allen, Nureyev, que já morreu, Caetano Veloso, que é muito conhecido na música. Tenho un carinho enorme, por exemplo, quando fotografei Marguerite Yourcenar, que foi a primeira mulher que entrou na Academia Francesa de Letras. Fui à casa dela, no Maine, fotografá-la. Fotografei William Defoe, enfim, muita gente, não gosto de destacá-las.

Acho que muitas pessoas dãp demasiada importância a esse aspecto de celebridades, de fama. Como dizia Andy Warhol, nos Estados Unidos a fama dura um minuto, depois passa. Existem outras coisas que são importantes, porque são humanas. Fiz um ensaio certa vez sobre crianças con Síndrome de Down e elas foram importantíssimas para mim. Foi muito bonito sentir o afeto daquelas crianças, a alegria de viver. Já fotografei dançarinos que não possuem nomes e que renderam fotos muito mais bonitas, às vezes, do que fotos de pessoas extremedamente famosas.

Na fotografia, a importância está no conteúdo, na expressão de algo: uma vivência, uma emoção, uma beleza, um sentimento, é captar isso que consiste o trabalho. Um momento também é importante. Fotografei um protesto contra usinas nucleares. A dedicação das pessoas à causa é uma coisa linda e as fotos ficaram sensacdionais, porque refletem isso. A arte maior é a arte de ser gente. Cada pessoa é importante.

Algo acrescentar nos brasileiros que mporan aqui?

Depois de morar anos aqui, hoje considero que possuo dois países, o que eu nasci, fui criada e, como diz um amigo meu, “você pode comer nos melhores restaurantes do mundo, que nenhum deles vai ter o sabor da comida que você comeu na sua infância”, e os Estaos Unidos, país com que tenho grande afinidade e afeto, é onde moro e desenvolvi a minha carreira. E posso dizer que sinto-me, nesse mundo globalizado, de dois lugares, me sinto confortável aqui e igualmente no Brasil. E isso é muito legal porque que tem raiz e planta.

Podemos nos sentir bem igualmente nos dois lugares e sernos leais aos dois, porque representam diferentes aspectos da nossa vida. Porque é isso que somos e é muito gostoso estar nesta situação, inclusive porque os países permitem a dupla cidadania.

 

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