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 The Bronx Journal-Portuguese Page     September 1999

Glauber Rocha

Tempo Glauber


Glauber Rocha

O cineasta que o Brasil desconhece

 

Ele mordia e assoprava ao mesmo tempo. Era capaz das mais apaixonadas adesões e das mais enfáticas críticas a amigos e inimigos. Fazia filmes ao mesmo tempo reflexivos, políticos e formalmente inovadores.

Dava declaraçoes sinceras sobre tudo, sem a preocupação de agradar a ninguém, a não ser à sua integridade intelectual. Era un sujeto anacrônico. Mais anacrônico, muito provavelmente, ele seria hoje, no seu aniversário de 60 anos, que seria comemorado num Brasil ainda injusto, dependente econômica e culturalmente, desajustado politicamente, coisas que ele abominava e combatia no cinema e fora dele. Apesar de mundialmente reconhecido para a maior parte dos brasileiros e sua memória corre o risco de se extinguir diante do descaso das autoridades e da população. Porém, para aqueles que têm apreço pelo cinema nacional, esse nome dificilmente será esquecido.

“Todo pensamento de Glauber partia da divisão que há entre metrópole e colônia”, afirma seu amigo Arnaldo Jabor, que completa: “Ele tinha um misto de fascinação e ódio pela figura metropolitana e abiminava nossa situação de colônia”.

Pouco antes de morrer, em 1981, Glauber parecia ter conciência de seu anacronismo. Criticado dentro e fora do Brasil por seu filme A idade da  Terra e por sua crença de que os militares promoveriam a redemocratização (“Golbery é um gênio, dos maiores da raça”, chegou a dizer), quis morrer no exílio, em Sintra como revela Zuenir Ventura num texto inédito sobre a morte de Glauber.

Vitória da Conquista

Terra natal de Glauber

Glauber Pedro de Andrade Rocha nasceu em berço espléndido. Conservada como era há 60 anos, a casa em que o cineasta veio à luz, na Rua 2 de Julho, uma das principais do centro de Vitória da Conquista –Bahía, tem três salas, seis quartos, janelas amplas por toda a sua extensão que, aliadas ao pé direito de três metros, mantêm o ambiente eternamente fresco, mesmo num abafado meio-día de março. Foi nos seus quintais, lembra o atual morador da casa, o tio Hermes de Andrade, que o já inquieto garoto Glauber corría, pulava o muro e vinha mostrar suas descobertas ao avô. A discreta placa na entrada é das poucas referências a Glauber em sua cidade natal.

Na realidade, somente lá pelo meio dos anos 80, Vitória da Conquista (ou melhor, um grupo de abnegados da cidade) se deu conta de que foi berço de um dos maiores artistas brasileiros. Hoje, exclusivamente por obra de professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, há o Teatro Glauber Rocha no campus, a sala Glauber Rocha no Museu Regional da cidade (com os vídeos de seus filmes, seus livros, fotos e outros documentos), muito boa vontade, e só.

“Há pouquíssimo tempo, se você perguntasse para qualquer pessoa na cidade quem era Glauber Rocha  ninguém saberia”, diz Jorge Mesqyisedeque, um desses abnegados, diretor da produtora de vídeo da Uni-versidade. “Hoje, depois de dois seminários sobre a obra de Glauber em 96 e 97, pelo menos os estudantes já conhecem Glauber”.

Uma das coisas que perjudica a memória de Glauber na sua cidade natal é o caos político brasileiro. O prefeito anterior, Murilo Mármore, projetou um megalômano Centro Cultural Glauber Rocha, mas foi construída, e abandonada, apenas uma entranha pirâmide nos arredores de Vitória da Conquista, um :monumento aos unubus”, como define, irritada, a mãe do cineasta, d. Lúcia Rocha, que acha que foi usada politicamente para o município conseguir recursos através do nome de Glauber.

Independentemente de qualquer celeuma, o reitor da Universidade, Aldenor Alves Pereira Filho, quer dar prosseguimento ao reforço da cultura cinematográfica da cidade.

“Fizemos agora o seminário Cinema Brasil – Uma história comentada com Walter Salles; temos a produtora de vídeo; o projeto Janela Indisvreta, que funciona como um cineclube; e mantemos a memória de Glauber como um conquistense”, diz. Para ele, a obra de Glauber foi muito inspirada nas paisagens e nos personagens de Vitória da Conquista.

 

Tempo Glauber

 

Se o anacronismo o faz quaze um desconhecido no Brasil –o Tempo Glauber, que abriga sua obra, funciona apenas pela determinação de sua mãe. Voz embargada, d. Lúcia Rocha admite que o aniversário do filho vai passar em branco na casa que ela, com muito esforço, criou para acoher a sua obra, superando diversas dificulta des. “Não tenho dinheiro. A minha crise já vem de muito tempo, não é de agora”.

O Tempo Glauber funciona num casarão de 13 cômodos, construído no século passado na rua Sorocaba, em Botafogo, desde novembro de 1990. Só não fechou até hoje graças à dedicação de d. Lúcia, de 80 anos.

“Recebo apenas uma ajuda da Riofilme (distribuidora de cinema de município), que me ajuda a pagar os empregados. Estou devendo água e luz, que já chegaram a ser cortadas, e o computadora quebrou. Estou devendo até para a loja onde comprei uma televisão para a sala de vídeo”, desabafa.

O Brasil trata a obra  do seu maior cineasta, sinônimo de cinema brasileiro aqui fora, com inexplicável descaso. Por falta de apoio, o Tempo Glauber sequer tem ar condicionado – imprescindível não apenas para o conforto dos seus visitantes, mas para a conservação de seu acervo.

“Nem ventilador eu tenho aqui. Eu me pregunto o que há ao redor disso. Talvez seja por causa da irreverência e da coragem do meu filho, que costumava dizer o que pensava. Fiz tantos projetos que daria um livro do tamanho da Biblia. Mas nem governos, nem empresários se interesam em me ajudar”, diz d. Lúcia.

 

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